segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

MARGINAL

Ah, visionário, louco, irresponsável!

Vendo tanta gente na tribuna
buscas o contrário:
cantos distantes do holofote.
Flancos que não saem na manchete,
sombras que te ocultam numa foto,
fatos que delatam
só o embusteiro em ti próprio!

Entre o remo e o barco
preferiste a margem,
entre o peixe e a rede
optaste pelo ócio.

Ah, visionário sem olhos!
Nasceste meio morto para a morte!
Para ser meio vivo entre cadáveres!

E não fizeste escolha, em verdade.
Antes a escolha te escolheu,
para não seres.
Antes a escolha te escolheu
para saberes
que não podias ser, jamais serias
só mais um sonâmbulo na via.

Estar meio desperto é tua sina
enquanto outra parte em ti dormita.
Carregas esse fardo pela vida:
não queres o aplauso, nem a vaia.

Caminhas, e em teus passos te atrapalhas:
a parte que em ti dorme fecha portas
e a parte desperta quer saídas.

Ah, visionário, louco, irresponsável!
Encontras, depois foges dos atalhos!
Despertas, e dormes acordado!

Ser um meio morto é tua sina
e bruxas agitam seus chocalhos.
Um dia alguém previu, no teu passado,
que não serias anjo no futuro,
que não serias homem, nem demônio:
serias tu um rito de passagem...

sem rastro, sem pegada, sem imagem
que conta desse dos teus atos
e morto, te mostrasse como morto,
e vivo, te mostrasse como vivo.

Ah, embusteiro de ti mesmo!
Não guardas novidade, nem segredo!
Nem barco, peixe, remo e nem rede!
Quiseste o ócio extremo de ser margem.