sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Da inutillidade da poesia





A Antonio Brasileiro

Célula do todo deslocada
obra o poeta noite adentro.
Faz o seu trabalho inutilmente
sabe que é inútil seu trabalho.
Pária social, mal necessário,
contador de estrelas, rodeado
pela solidão onipresente.

Servo da palavra, nada
que Platão previu como ameaça,
mais parece um ser em extinção.
Peixe fora d’água, ave sem asa,
capaz de voar mesmo trancada
das grades da coisificação.

Sabe ser inútil seu trabalho
sabe que bem poucos o lerão
sabe que insuspeitam que entre grades
muito menos vêem e verão
réus inconscientes que são massa.

Sabe que é passado
mas não passa, pois cada
poema é uma faca
e outros poetas nascerão.