sábado, 29 de outubro de 2011

A (in)consciência de si

O ato em si se faz
ainda que penses
como?

Pensas sem saber
quão independente de ti.

E andas por aí
como quem tem respostas;
te comportas
como
quem sabe as perguntas,
ó caiado muro!

E te regalas
dentro desta casca,
pérola olvidada.

Incorporas
tudo que vem de fora
olhos que não janelas
mas saídas emergentes.

Enredado,és refém
do ato que te conduz
a despeito do que penses.

Regalado no engodo
estremece teu corpo
quando a alma diz, sem logro:
- implode a casca,
filho da luz,
e sê maior que o ato,
sê maior que o espaço,
sê maior que o mundo.

Sê como óleo em gota
derramado no papel:
penetra a essência das coisas
descobre teu próprio céu
implode essa casca oca
que abafa teu coração
para, anterior ao ato,
ser último e primeiro!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Empíreo


EMPÍREO

A turva emoção te procurava
em límpidas paragens.
Quis pronunciar teu nome
ante o olhar mais belo.

Quis seguir-te, trôpego, por meus descaminhos,
e dizer-me teu, não sendo,
e dizer-te meu, quando (Eu) não era.

Pois o que queria ainda quero
e o que quero agora, se ainda quiser,
será noutro tempo o querer de agora,
mas... E tu? E tu? E tu, que viajas fora
e que estando dentro fácil não se alcança
e que alcançado longe é, embora
aquele que alcança creia, no momento,
ter-te sem te ter, ainda não te sendo,
pois se um dia for, não terá sido.

Melhor, sei que nada sou, no fundo,
e que sendo nada maior sou que o mundo,
porque nada sendo, que querer preciso?

Extingo esse eu e na extinção diviso
o que procurava refletido:
no meu coração o paraíso.

Júlio Polidoro

Tributo ao silêncio

Quanto mais tagarelo me confundo
tanto mais confundido me atrapalho,
minha língua é refém de ato falho
e eu falho falando a todo mundo

a rota do desejo mais profundo
que fulgura em meus olhos, feito atalho
e permite que os outros, sem trabalho
mais que eu me conheçam, e mais fundo.

Me abster do discurso? Sofro e calo.
Mas calado mais sofro, então eu falo,
mas falando também não me contento.

Eu queria dizer, bem, o que sinto,
quando digo, porém, eu sei que minto,
misturando razão com sentimento.

Júlio Polidoro