quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O ADVENTO



Gosto da palavra advento. Ela possui fabulosas imbricações, que sugerem estradas vicinais, estalagens no meio do caminho... meio do caminho que tem pedras, mas também outros atalhos.
Gosto de pensar nas implicações da palavra advento, no seu significado à margem, no que diz, sem dizer, nas entrelinhas. Gosto das linhas bifurcadas de tantos roteiros e vias. Gosto de caminhos, sendas, passagens. Gosto de frestas, da fímbria dos rios e mares, das beiradas dos lugares, das orlas desguarnecidas, pois nada jaz desguarnecido.
O advento propõe uma chegada. Propõe uma estrada pela qual se chega de carro ou de biga, em liteiras ou camelos, ou num simples burrico, sem guarnição, sem pedrarias, sem cela, sem coisa alguma.
Gostaria de ver chegar esse desconhecido visitante, da margem da minha vida: assistir sua chegada, numa carruagem ou a pé. Afinal, que importam os meios senão a chegada em si? Que importa o veículo senão a quem conduz?
Gosto da palavra advento. E das imbricações do caminho, da ligação profunda que há entre todos e nenhum lugar. Gosto do gosto da espera, e aprendo, sem sair da minha margem, que o visitante é capaz de chegar por todas elas, em cada orla onde houver alguém que espera, porque, mais que o lugar e os atalhos, mais que o tempo e as estradas, em alguma estância dentro de nós Esse Visitante já é chegado e faz pouso em nossa mais recôndita estalagem.

Boas Festas! Feliz 2010, com muita saúde!

Júlio Polidoro

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