sexta-feira, 8 de julho de 2011

Dois poemas

GESTAÇÃO



O profundo fundo mar absoluto

é uma concha recolhida que ausculto



uma concha de outro mar que se perdeu

uma concha do oceano que era eu



mar imerso no oceano do teu útero

oceano do infinito absoluto



no infinito do cordão umbilical

quando sol eu era, feito sal



da Terra.





MOTO-PERPÉTUO



Nívea nuvem sobre o negro coração

nunca a noite foi tão clara como então.



Nunca o ritmo do rio que retorna

com seu rito repetido se renova



posto que águas abundantes amealhem

comuns cursos que comuns nunca serão.



Passam rios diferentes pelo leito

e meu rosto diferente é o mesmo



pois diversa a imagem ao espelho

não diverge da imagem que não vejo.



Eu aspiro ao que não tenho; o que quero

está longe do que alcanço e postergo



quando alcanço algo outro é meu desejo.

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