De mim eu tantas vezes tenho sido
aquele que, privado dos sentidos,
não sonha, nem vive no real.
Espectro de vida no umbral,
não grito nem calo nem prossigo:
avanço e contudo volto atrás.
Os dias se parecem sempre iguais
se presos eu os guardo no bornal
e tento ocultá-los de sua luz.
Não posso fazer sombra sobre o sol.
Se olvido, porém, que em vão me imponho,
se partem as amarras do que penso
e vejo-me além do pensamento:
me torno, num segundo, num momento,
o mais profundo ser, essencial.
É pena que no instante que se segue
desate-se a memória, que se perde
e volte eu a sonhar que sou real.
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