terça-feira, 7 de outubro de 2008

Majun volta para casa

Estou enamorado, Pai.
Sou este que retorna, em trapos.
No longínquo instante em que rasguei o peito, eu tentei enchê-lo com as dádivas do mundo.
Quando, há muito tempo, me apoiei na janela do vazio, saí, colhendo nada do caminho.
Deixei-te pelas coisas, pai, e volto, sem saber de mim.
Um dia, estando com outros viajantes, entrei na roda que dançava.
Festejavam bodas da colheita. Pude perceber, na luz estreita, os olhos que me escravizaram.
Nunca mais dos meus se apagaram.
E enquanto cantava, inebriado, o poeta, à musa pretendida, o meu coração também cantava, minh’alma dançava enlouquecida. Neste instante, ao centro, ó Deus, miragem? Eis, assoma a vida da minha vida! Ao tempo que ria eu pranteava, pois no seu olhar eu me encontrava, a face encoberta por tiara e guizos.
Quanto mais a via mais a amava, tanto mais me dava mais perdia o meu próprio eixo, em rodopios.
Ó amor sem tino, desalento, sendo o mel mais doce mais maltrata, e de mim se afasta, se aproximo.
Transitei em torno de mim mesmo. E saí, sem rumo, do roteiro, a buscar, por fora, o que está dentro.
Mendiguei nas ruas do inferno; fui pedinte, algoz e prisioneiro. Fui sultão, filósofo, bandido. Em nenhuma posição venci, vencido. O que hei de ter, se está perdido o bem precioso que não tenho?
O menor dos homens eu me sinto, estando no trono ou no jazigo. De que vale o aroma, se não traz a flor consigo?
Estou enamorado, pai. E a ti retorno, maltrapilho. Tudo que não trago não foi tido. De algum modo, sei que está contigo, chave, reino e todo o tesouro. Sei também que, sob guizos, hei de ter, do amor enlouquecido, o amor de Laila aqui, comigo.

Nenhum comentário: