terça-feira, 7 de outubro de 2008

Sidharta

A balsa segue, lentamente. Os braços do balseiro e os remos parecem um mecanismo único, tão familiarizados estão ao afã. O olhar do condutor se perde no horizonte, como que sondando o rastro da margem oposta.
Pobre balseiro... Qual será sua fortuna? Cortar, repetidas vezes, a corrente do rio, conduzindo viajantes de uma à outra margem?
Talvez sua fortuna esteja no esforço de imprimir movimento aos remos e fazer com que a balsa se desloque.
Rio de tantas margens, tantas afluências, onde o ancoradouro definitivo? O que é definitivo?
Os olhos do balseiro miram o horizonte, como que alheios ao resto do corpo. O que procuram seus olhos?
Alcançamos uma, de muitas orlas. Ao preparar-me para descer, não consigo conter o ímpeto da pergunta: - o que procuram teus olhos, velho balseiro?
E o ancião volve a mim o olhar profundo, murmurando:
- Não sei.

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